Ciências Holísticas em nosso território

Ciências Holísticas em nosso território: experimentando a integralidade de práticas brasileiras

Vivemos um momento de esfacelamento das estruturas atuais e estamos perplexos diante de uma realidade que se apresenta a nós como declínio. Algumas iniciativas periféricas emergiram apesar dessas estruturas, cresceram fortes e estão hoje aí para nos dizer algo sobre o presente e o futuro.

Como conhecê-las e compreendê-las com um olhar não formatado pelas antigas estruturas?
Como entender sua integralidade, de forma a incluir todos os elementos que as compõem?
Como essas percepções podem informar nossas emoções e nossos pensamentos?
Como nos abrimos para as possibilidades dos tempos que virão?

Queremos com estes encontros revelar a centralidade e integralidade de algumas iniciativas brasileiras, e reconhecê-las como forma de cultivar uma nova maneira de estar no mundo, nos fortalecendo perante as inúmeras crises que vivemos.

Essa visão que busca integrar ao invés de dividir é conhecida como Ciências Holísticas. Como alternativa à Ciência Moderna, esta ciência nos convida a ir além do cultivo de nossas habilidades racionais e quantitativas. Além de ser uma abordagem aplicável no campo da ciência, as Ciências Holísticas nos convidam a explorar uma nova forma de estar em relação com o mundo. Uma maneira que privilegia a percepção delicada dos movimentos de vir-a-ser, e que nota e valoriza as percepções das qualidades e relações por meio de nossos sentidos e intuição.

Nossa intenção com esse curso-experimento nasce da vontade de praticar essa forma de se relacionar com o mundo junto com brasileiras e brasileiros de diferentes contextos que nos inspiram pela relação que cultivam com suas práticas. Estaremos em diálogo com estes professores convidados refletindo a partir do olhar atento cultivado nas Ciências Holísticas.

Iniciaremos nosso ciclo de oito encontros com algumas sessões iniciais para nos situarmos dentro dessa abordagem, seguidos de sessões com professores convidados, e uma sessão final de fechamento da jornada.

Nossos professores convidados:

Antonio Bispo dos Santos: é lavrador, formado por mestras e mestres de ofícios, morador do Quilombo Saco-Curtume, localizado no município de São João do Piauí. Ativista político e militante de grande expressão no movimento social quilombola e nos movimentos de luta pela terra, atua na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e na Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Faz parte da primeira geração da família de sua mãe que teve acesso à alfabetização. Sua fala traduz uma visão de mundo forte e independente, ao mesmo tempo que impulsiona para novas formas de perceber o mundo e viver nele.

Naine Terena: Naine atua na Oráculo Comunicação, Educação e Cultura, onde realiza assessorias, consultorias, elaboração de projetos, programação cultural/educativa, curadorias, entre outras atividades que envolvam arte/educação/comunicação e pesquisa. É docente da União das Faculdades Católicas de Mato Grosso. Doutora em Educação, mestre em artes, graduada em comunicação social, é docente na Faculdade católica de Mato Grosso e coordenadora do Projeto de pesquisa ‘Lab-Gente: perspectivas, transições e construções sociais’, no grupo de pesquisa Multimundos Brasil (UFMT). Naine tem a habilidade e a sabedoria de nos fazer perceber como humanos, tocando-nos em lugares profundos de nossa experiência enquanto corpos, e enquanto seres capazes de atravessar fronteiras desnecessárias e ultrapassadas, apesar de ainda dominantes em nossa sociedade.

Valéria Maria Macoratti: Agricultora familiar orgânica, permacultora, vice-presidente da Cooperapas, coordenadora da Associação Acolhida São Paulo, que trabalha com turismo de base comunitária na região de Parelheiros. Valéria tem a energia e a vitalidade das plantas com quem dialoga para produzir os alimentos em uma escala inacreditável para uma única pessoa e seus poucos colaboradores. Ela conhece a linguagem da terra e a reverencia de tal forma que não espera dela nada que ela não possa ou não queira dar.

Vânia Maria Ferreira dos Santos: Agricultora familiar orgânica, faz parte da Cooperapas e da Associação Acolhida São Paulo, que trabalha com turismo de base comunitária. Também coordena a Cozinha Amaras, empreendimento coletivo com um grupo de mulheres na região de Parelheiros. Vânia tem a calma das pessoas sábias, que entende as potencialidades e as limitações de cada um e conduz delicadamente a processos importantes de transformação por meio da alimentação.

André Gravatá: André é educador e poeta. Autor dos livros de poesia ‘O jogo de ler o mundo’ e ‘Inadiável’, organizador do Cartas a jovens educadores/as e coautor do Volta ao mundo em 13 escolas. É um dos criadores do jornal das miudezas, junto com a artista Serena Labate. Também é um dos criadores da Virada Educação. André tem o dom de tornar visível a poesia que vive nas rachaduras do dia a dia; e faz isso com elegância e leveza, ao mesmo tempo em que denuncia ativamente as palavras que já não dizem.

Serão oito encontros com 1h30 de duração:

13.mai: fazendo sentido da crise atual, com Rita Mendonça e Beatriz Tadema
20.mai: fazendo sentido da Teoria Gaia e Ecologia Profunda, com Rita Mendonça e Beatriz Tadema
27.mai: fazendo sentido da Ciência Goetheana, com Rita Mendonça e Beatriz Tadema
3.jun: diálogo com professor convidado Antonio Bispo
10.jun: diálogo com professora convidada Naine Terena
17.jun: diálogo com professoras convidadas Valéria Maria Macoratti e Vânia Maria Ferreira dos Santos
24.jun: diálogo com professor convidado André Gravatá
1.jul: Fazendo sentido dos nossos encontros, com Rita Mendonça e Beatriz Tadema

Antes de cada encontro serão compartilhados materiais de leitura prévia. As sessões serão um espaço de troca e reflexão a partir dos conteúdos compartilhados e falas dos professores convidados.

Para quem é este curso?
-Para quem busca olhar para a crise atual de forma ativa e responsiva
-Para aqueles que tenham interesse em praticar um modo de consciência não linear, intuitivo, participativo e focado nas relações
-Para quem tenha interesse na troca com iniciativas brasileiras de diferentes contextos (indígena, quilombola, agricultura, gastronomia e artes)

Um dos aspectos fundamentais da educação Schumacher é a participação e troca em comunidade. A participação de cada um é essencial para o entendimento e a prática das ciências holísticas no vir-a-ser do próprio curso. Nada e ninguém está de fora.
As sessões serão gravadas e disponibilizadas aos participantes, porém reforçamos a importância da presença de todas e todos nas sessões ao vivo.

O curso será coordenado e facilitado pelas professoras Rita Mendonça e Beatriz Tadema.

Sobre Rita Mendonça: Educadora naturalista, dedica-se à facilitação da aprendizagem com a natureza. É co-fundadora do Instituto Romã, coordenadora no Brasil da Sharing Nature Worldwide e professora da Escola Schumacher Brasil. É escritora tendo publicado diversos artigos e livros sobre filosofias e práticas da natureza. É coordenadora do curso de pós-graduação na Casa Tombada, A Natureza que somos – filosofias e práticas para uma atuação genuína no mundo.

Sobre Beatriz Tadema: mestre em Economia para Transição pelo Schumacher College (Inglaterra), Beatriz trabalhou como facilitadora junto aos mestrados de Ciências Holísticas e Economia para Transição; e está hoje à frente dos movimentos da Escola Schumacher Brasil. Atua como professora, facilitadora e consultora, levando as temáticas e o ethos Schumacher também a organizações de diferentes formatos e contextos. Desde 2019 integra a Schumacher Worldwide Research in Action Community como pesquisadora, onde explora muito da abordagem proposta para estes encontros.